Monday, October 25, 2010

Tropa de Elite 2 (breves comentários)

O novo filme de José Padilha merece poucos comentários. Como um filme de ação é muito bom. Ficam definidos claramente os papeis de mocinho e bandido (pelo menos para o público) e a partir do confronto entre o bem e o mal, a trama vai se desenvolvendo. Bons filmes de ação produzidos em Holywood também conseguem isso. O que atrapalha um pouco Tropa de Elite 2 é a intenção de transformar o maniqueísmo flagrande em algo mais complexo. Mas ainda assim, o filme de ação é divertido.
Quanto aos aspectos éticos do filme, menos coisas a falar. Discurso anti-sistema pueril (o inferno sempre são os outros). E a culpa (de que mesmo?) agora deixou de ser dos consumidores de pó e passou para os políticos (chegando até Brasília), que comandam uma imensa maquinação para conseguir votos.
Em suma, vale como divertimento no final de semana. Mas duvido muito que valha o tempo de cinco minutos de polêmica.

Saturday, October 23, 2010

Papai, eu preciso ser notada!

Eu nunca vi um filme de Sofia Coppola inteiro, mas vi uns pedaços de alguns e todas as vezes tive um verdadeiro mal-estar com as baboseiras que a cineasta usa para fundamentar as suas obras. A baboseira fundamental é a caracterização da protagonista (talvez ela própria) como uma pessoa que está convicta da sua espiritualidae superior ao resto do mundo porque nunca aceitará viver a vida frívola das pessoas ao seu redor e que demonstra uma angústia tremenda quando um contexto desse tipo lhe é imposto. Uma outra baboseira é o sentimento de frustração que vai adquirindo a protagonista (e em algumas situações outros personagens semelhantes) com o fato de que nunca poderá ficar claro a essas pessoas frívolas o quanto a sua espiritualidade exacerbada é superior.
O filme de Coppola Filha que vi por mais tempo foi "Encontros e Desencontros". A protagonista é a deliciosa Scarlet Johanson e o mocinho é a porra do Bill Murray. O filme já começa bizarro pela sugestão de que Scarlet Johansen vai dar pra ele. Isso já é uma coisa indigna de se pensar, mas Bill Murray é um personagem que compartilha com a protagonista esse definitivo senso de superioridade espiritual em relação ao restante de humanidade (no caso de Murray esse senso se manifesta em relação ao Japão e aos japoneses). Em um momento do filme ele lamenta pra ela: "ah! viajei não sei quantas mil milhas para fazer um comercial vazio e ganhar uma quantia exagerada de dividendos". De fato ele não fala isso, mas fala algo com exatamente esse sentido. A moça que é ou filósofa ou antropóloga (não lembro), mas casada com um fotógrafo galã, que trabalha com modelos bonitas que falam de prisão de ventre (que frívolidade!) se apaixona por Murray. Eis um confronto do belo vazio contra o feio pleno de conteúdo intelectual e espiritual por dentro. E a paixão é recíproca, pois um feio pleno por dentro consegue ir além do maravilhoso e curvilíneo pote que envolve a intelectualidade e espiritualidade superiores de Johanson. E quando dois seres desse tipo se encontram, dá namoro! Não cheguei a ver o final, mas conversando sobre essa porra desse filme, já me contaram que felizmente os dois não consumam a paixão (nem com um inocente beijinho). Aliás, parece que o filme ganhou Oscar de melhor roteiro justamente porque o desfecho não é como a maior parte dos filmes desse tipo. Aliás, já escutei louvores a essa magnífica obra por causa desse magnífico desfecho. Os dois protagonistas acabam se separando.
Eu não consigo bem entender o significado de um final como esse, mas posso especular. A primeira hipótese é a de que eles eram tão superiores que não era necessário que a paixão descesse ao baixo nível do encontro de fluidos corporais e carne. A segunda hipótese é a de que a frivolidade que inunda as pessoas as impediria de entender principalmente os atos de Scarlet Johanson (já que ela é a protagonista). Na primeira, a plenitude espiritual (ainda que feia por causa de Muray) vence a frivolidade. Na segunda o contrário. Mas o fato é que o filme é feio e pleno tal como que um pote cheio de merda também é.
Resolvi postar esse texto porque acabei de ler num jornal que no filme novo dela, Coppola usa a mesma fórmula. Eis a frase na matéria: "Coppola faz retrato do showbusiness e da vida que gira no vazio". Puta que pariu!
Tinha parado nessa frase pra escrever aqui, mas quando li o resto da matéria (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/818945-sofia-coppola-equilibra-critica-e-delicadeza-em-um-lugar-qualquer.shtml) lembrei de uma discussão sobre a cineasta que tive uma vez com Novak, nosso colaborador esporádico. Ele chamou atenção ao fato de que as protagoistas de Coppola denotam que ela se sente no papel da filha, cujo pai famoso e importantíssimo na humanamente superficial indústria cinematográfica, nunca teve tempo para ouvir as divagações brilhantes de adolescente rica que ela deve ter tido quando era mais nova. Todas as suas protagonistas querem um pouco de atenção para o seu brilho intelectual e o mundo incondicionalmente vazio e imediatista não demonstra a menor disposição em prestá-la.
Parece que nesse novo filme, a filhinha do cara que vive um mundo de frivolidades vai tirar ele desse mundo. Se for assim, a vitória contra a frivolidade será conseguida. Espero que depois disso ela pare de fazer filmes.

Sunday, October 3, 2010

É a democracia, abestado

Eu tinha dito a mim mesmo q não ia mais falar de política nessa merda, mas acho q vale a exceção. Acabo de saber que Tiririca conseguiu a maior votação da história do país pra deputado federal. Logo depois, vi na TV alguns comentários num debate envolvendo um marqueteiro político, um dono de instituto de pesquisa e dois políticos. Condenações a esse fato não faltaram no debate e nem faltarão nos próximos dias. Um falou que era um achincalhamento à democracia, outro que faz parte da história política brasileira e todos aproveitaram pra falar que o Brasil precisa de uma ampla reforma política, ou seja, uma reforma no arcaboço legal que regula os processos eleitorais e a política ordinária. Sinceramente, eu fico estupefato como esse assunto bizarro aparece em períodos eleitorais. Sistemas políticos democráticos têm problemas da Suécia à Índia e é provável que sempre tenham durante todo tempo que a democracia durar e a tentativa de reformá-los só resulta em uma coisa, a saber: a certeza de que a reforma gerou outros problemas para o sistema que geraram outra necessidade de reforma. Mas não quero falar disso. Quero falar da indignação das pessoas às candidaturas de pessoas como Tiririca e artistas em geral, jogadores de futebol, personagens de vídeos bizarros do youtube e coisas similares. Primeiro de tudo, o brasileiro tem a tendência de achar que a priori qualquer pessoa que submeta sua candidatura a um cargo público quer na verdade dar uma mamada nas tetas do governo. Em consequência, essa tendência leva ao fato de que quando um eleitor vota em alguém ele se sente fazendo um favor; "estou dando a esse cidadão, um emprego público e os privilégios decorrentes desse(inclusive as mamadas nas tetas) por um tempo". Logo, se Tiririca se candidata ele quer é mamar.
Porém, a democracia é um sistema que demanda para a sua existência, a ampla participação da população no processo eleitoral. Qualquer um, respeitando algumas restrições perfeitamente razoáveis, como a maioridade por exemplo, pode ser um candidato. Se Tiririca, Romário, Bebeto, Franklin Aguiar e o grande Reginaldo Rossi se candidatam isso é uma simples decorrência dessa demanda, que na verdade é melhor qualificada como princípio da democracia representativa que vivenciamos.
De fato, é pertinente achar que alguém que queira se candidatar a um cargo público, deva fazê-lo por alguma noção de bem público, ou tenha experiência, ou ainda um discurso empolgante, mas tenho tido a impressão de que, a maior explicação para que uma pessoa que nunca teve nada na vida parecida com uma carreira política (em sindicatos, movimentos estudantis, associações de moradores, clubes) submeta-se ao escrutínio eleitoral é o fato de ele ser conhecido. Tanto é que quando em algum lugar alguém é conhecido de muita gente, todos tiram a velha onda,"porra, fulano vai se candidatar a vereador". E acho q é por isso q esse pessoal se candidata. Concordo que seja pertinente desconfiar da seriedade dessas candidaturas, mas por outro lado digo pode ser puro preconceito negar a possibilidade de que esses candidatos, quando eleitos, possam levar a futura carreira política com seriedade.
Mas o ponto mais importante desse texto inútil é indagar se quando um candidato desse tipo é eleito com 1 milhão de votos numa votação proporcional e o sentimento aparente varia de vergonha à indignação não há nada errado com a democracia em seu fundamento. A candidatura de alguém como Tiririca não passa de uma candidatura até que 1 milhão de pessoas votem nele. Houve uma decisão apoiada no princípio da maioria, que é o fundamento por definição da democracia.
Tiririca é um símbolo da democracia, abestado.