Saturday, September 20, 2008

Uma ode ao perdedor

Compareci ontem ao Coquetel Molotov, evento indie que tem acontecido nos meses de setembro, de uns 4 anos até aqui, se eu não me engano. Apesar de não gostar nem um pouco da tendência musical que o evento tenta abarcar, fui para desfrutar do auê. Bem, não me deterei a comentar o evento em si e sim a apresentação do ex-vocalista da Los Hermanos, Marcelo Camelo e o clima de histeria da plateia que a acompanhou. Ah, gostaria também de adverti-los que não consegui ver o show inteiro, pois tive que sair várias vezes para vomitar. Portanto, esse post comunga do espírito do blog que é o de comentar coisas sobre as quais se conhece pouco. Pois bem, Marcelo Camelo é o protótipo do pirralho ginasial que sofria bouling. Levava babaus em todos os recreios, ninguém chamava ele para jogar bola e quando, pelo direito de pedir a próxima ele conseguia jogar, o time dele perdia. Até o dia em que nenhum dos seus colegas quis mais jogar com ele e ele desistiu de jogar futebol. Mesmo que isso não tenha acontecido, foi exatamente isso o que aconteceu, pois como diria Hegel o que vale é o espírito. Então ele resolveu aprender a tocar violão a fim de melhorar a sua situação social entre os seus pares. O que eu sei é que ele acabou encontrando um pessoal na UFRJ, enquanto estudava jornalismo e comprou uma guitarra azul calcinha de menina virgem para fazer uma banda: a Los Hermanos. Um belo dia, a banda, que apresentava uma alternativa interessante ao fracasso qualitativo da música pop brasileira, que não sobreviveu à morte de Chico Science, chegou ao ocaso. Então Marcelo Camelo resolveu começar uma carreira solo, com a mesma guitarra azul calcinha de menina virgem. Acho até que era outra guitarra, mas a cor permanecia a mesma. Bem, ontem ele se apresentou no Molotov, considerando a si mesmo e sendo considerado pela platéia de meninas que acabaram de entrar em algum curso de humanas na UFPE, o mais novo ícone da música popular inteligente brasileira. Sentado num banquinho, com uma banda que tinha até um maldito vibrafonista estava convicto de que era o próprio Chico Buarque. A verdade é que ele parecia muito mais um Caetano Veloso dada a postura quase teatral que o levava a baixar a cabeça todas as vezes que os seus músicos começavam a tocar uma coisinha mais lenta. Nesse momento ele se tornava o deprimido reflexivo. Mas suas músicas com letras tão profundas quanto um pires (esse é o melhor chavão do jornalismo artístico no Brasil) cantadas na sua voz de brocha (esse adjetivo à voz dele devo a uma grande amiga) eram cantadas em coro por quase toda a platéia que lotava o teatro da UFPE, que suporta quase 2000 pessoas. E não só isso ; a cada fonema que ele emitia havia uma gritaria. A cada mi menor convertido pelos captadores da sua guitarra, havia outra maior ainda. A situação era de fato nauseabunda. Foi por isso que acabei não vendo o show inteiro. E numa das vezes em que voltava ao palco (vi o show de dentro) lembrei daquela música horrenda dele que fala que ele não é muito de ganhar e etc. E ao acompanhar a histérica salva de palmas do fim do show, o título desse post passou na minha cabeça.