Saturday, April 9, 2011

Celulares e a evolução da espécie

Depois de ser censurado por familiares, amigos, colegas de trabalho e até por um assaltante, pelo fato de o meu aparelho de telefone celular não conter as maravilhosas novidades do desenvolvimento desenfreado das tecnologias da informação, resolvi me expressar aqui nesse relevante blog sobre o assunto. Diferentemente dos outros animais, a nossa espécie, (o homo sapiens sapiens), há milênios quase não precisa mais de mutações genéticas que aumentem a adaptação dos indivíduos em relação ao nicho ecológico de que fazem parte, para aumentar as chances da sua perenidade. O advento do raciocínio nos propiciou a capacidade de responder aos problemas impostos pelas características ambientais de uma forma tão eficiente, que qualquer montanha de vários hectômetros, se transforma em um simples problema conjuntural. Se eu quiser transpor essa montanha, em vez de passar uns cinquenta mil anos esperando que uma asa cresça nas minhas costas, eu vou lá e invento o avião.
É possível dizer que com o advento desse raciocínio começa também a primeira parte da história da tecnologia. Esse ramo do conhecimento humano diz respeito justamente ao conjunto de técnicas e artefatos que o ser humano precisou desenvolver para se livrar dos problemas que o ambiente lhe impunha e ter mais chances de sucesso na sua sobrevivência como espécie. Sendo assim, as nossas necessidades sempre foram a razão sine qua non do desenvolvimento tecnológico. Temos aí um problema conceitual gravíssimo. Já que conseguimos nos proteger dos predadores, de temperaturas inadequadas, da fome e de uma quantidade enorme de doenças, graças às nossas armas e abrigos, aos nossos aquecedores, à nossa capacidade de cultivar alimentos e às nossas vacinas (vide o fato de sermos parte da maior e a única pandêmica população de mamíferos do planeta) o que porra vem a ser necessidade para a nossa espécie?
Confesso que não tenho nem condição nem vontade de entrar numa discussão dessas. Vou me ater simplesmente ao fato de que nossas necessidades como espécie já foram supridas e priu. Desde que os artistas plásticos começaram a assinar suas obras na modernidade temos sido indivíduos e temos necessidades individuais. A uma parte de nós tem cabido o desenvolvimento da tecnologia. E a história dessa acabou dando uma guinada. Em vez de ser o simples efeito (na maior parte externalidade) das necessidades da espécie, a tecnologia virou a causa fundamental das necessidades do indivíduos. Embora há dez anos atrás não sentisse muita falta de assistir o Domingão do Faustão em uma tv full hd, hoje não consigo mais viver sem isso.
E os exageros não são raros. Quantos ficam ansiosos pelas novidades tecnológicas e querem ser os primeiros a tê-la? Acampamentos em frente as lojas quando se anuncia a estreia de um novo sistema fenomenal de alguma coisa são cada vez mais frequentes.
Sabendo disso, a parte da humanidade responsável pelo desenvolvimento dessa tecnologia desenvolveu até uma estratégia de divulgação da mesma. Qualquer avanço deve ser divulgado e comercializado parcialmente. Os indivíduos de que falei acima vão comprar o novo fuckingpad assim que ele chegar nas lojas. Seis meses depois vão comprar o novo motherfuckerfuckingpad, que de fato já existia antes do primeiro. O segreo é a alma do negócio. E assim as ações da empresa fucking vão lá pra cima. Fuck!
De fato, acredito que cada um gasta seu dinheiro como quer. Já que garantimos a nossa sobrevivência como espécie (considerando que qualquer hecatombe planetária ainda é uma coisa restrita a hollywood e aos ambientalistas), o indivíduo gasta o os recurso de que dispõe, obtidos graças ao suor de seu rosto como quer. Se ele quer um celular de mil e quinhentos reais para twitar, problema dele.
Para suprir as minhas necessidades, eu preciso apenas do meu que liga, marca a hora e tem despertador.