Friday, August 15, 2008

O fracasso olímpico brasileiro

O Brasil ocupa atualmente o lugar número 38 no quadro geral de medalhas olímpicas em toda a história dos jogos modernos. Apesar de ser necessário louvar individualmente todos os atletas que conseguiram ganhar a sua medalha, é inegável que o Brasil, com 17 medalhas de ouro (mesmo número do Quênia) é um fracasso em termos olímpicos. Pelo menos 25 países de economia menor do que a brasileira estão a frente do Brasil. Quais seriam as razões desse monumental fracasso? Dentre as várias possíveis, eu quero apontar algumas. 1- razão desportiva: o Brasil não domina, nem disputa o domínio de nenhuma modalidade que gere bastante medalhas, como o judô, o atletismo e a natação. Na verdade não chega perto de fazê-lo em nenhuma. Se tomamos o atletismo como exemplo, países como o Quênia, a Polônia, a Etiópia estão infinitamente à frente do Brasil. 2-razão econômica: apesar de todo o alarde quando se chega perto dos jogos olímpicos, dinheiro que é bom, nada! O investimento brasileiro em modalidades desse tipo é tacanho. Em Recife, conheço dois centros com espaço para a prática de atletismo. Um é o Colégio Santos Dumont e o outro é o Núcleo de Educação Física da UFPE. Só para se ter uma idéia, a pista de corrida do primeiro, apesar de ser de cimento, tem placas se soltando. A pista de corrida do segundo é de uma irritante mistura de areia e cascalho. Pelo que percebo gente disposta a praticar atletismo no Brasil não falta, aliás sempre que vou em algum desses lugares, muita gente tremendamente disposta está praticando o esporte. Se houvesse um programa de investimentos que visasse a no mínimo oferecer condições básicas para essa, certamente a posição brasileira na história olímpica desse esporte seria mais acima. 3-razão cultural: o futebol é o esporte de todos os esportes e isso é inegável. Entretanto, o tempo dispensado pela imprensa para a cobertura desse esporte no Brasil beira o absurdo. E não apenas porque o brasileiro invariavelmente só quer saber de futebol, mas porque assuntos como brigas entre dirigentes e a vida pessoal dos atletas estão na pauta jornalística. Certamente se esses assuntos não fossem dignos de publicação sobraria mais tempo para a cobertura de outros esportes. De fato, confundir mau comportamento da imprensa esportiva com cultura pode parecer bizarro, mas é inegável que a imprensa, apesar de ter seus próprios interesses políticos, segue uma lógica de dar respostas à demanda do público, mas da mesma forma pode criar uma demanda do público se ofertar informações unilateralmente. 4-razão política: o esporte no Brasil tem em quase todos os setores uma tendência clara: a perpetuação no poder dos seus dirigentes. Não sei se essa tendência se aplica ao judô, à natação e ao atletismo, mas o fato é que o Comitê Olímpico Brasileiro tem à sua frente o mesmo presidente, Carlos Artur Nusman, pelo menos desde os jogos de Atlanta em 1996 (o momento em que o vi como presidente pela primeira vez). E, frisemos, o Brasil durante seu mandato, conseguiu apenas 8 medalhas de ouro, passando em branco nesse critério nos jogos de Sydney em 2000. Oito medalhas de ouro é o que Michael Phelps vai conquistar em apenas uma edição dos jogos. Se esses resultados não são suficientes para remover os dirigentes de uma agremiação esportiva, eu não sei mais o que seria suficiente. Saber eu até sei, mas isto transcenderia o critério de eficiência. Uma outra coisa a ser apontada é que a segunda e a terceira razões são estruturais e diria até que são responsáveis em grande medida pela primeira e de certa forma pela quarta. O acréscimo no investimento e o maior espaço de cobertura na imprensa de esportes de alto potencial olímpico certamente melhorariam o desempenho brasileiro nas Olimpíadas. Isso poderia ampliar a nossa cultura de eficiência desportiva (que já existe em demasia no Futebol, pelo menos no que concerne à Seleção) para tais esportes olímpicos, o que exigiria por sua vez dirigentes profissionais e de fato competentes. Caso contrário, o Brasil estará condenado ao fracasso em matéria de esporte.

Saturday, August 9, 2008

O direito à auto-determinação dos povos, você e George Bush

Se você tiver achado linda a auto-proclamação de independência de Kosovo, você tem que achar uma beleza o que a Rússia começou a fazer na Geórgia. Se você fosse George Bush e também cumprisse a condição que eu expus acima, você teria todos os instrumentos para ajudar os russos nessa maravilhosa defesa do direito à auto-determinação dos povos. Afinal, essa intervenção é para proteger a Ossétia do Sul, região que por não ser geórgia em termos culturais, tem pretendido se separar. Só que George Bush não fez o que a lógica resultante do inter-relacionamento das sentenças acima prevê. Você então já deve estar chamando George Bush (e isso não é pela primeira vez) de hipócrita e coisas assim. Se você está fazendo isso, é porque você é extremamente ingênuo e acha mais interessante o que as pessoas falam do que o que as pessoas realmente buscam. Ou, em outras palavras, preocupa-se com o discurso e esquece que o que move as pessoas são os interesses. Vou explicar melhor, utilizando uma "teoria" que pode até não ser a única que explique o que de fato está acontecendo, mas que é útil para o meu objetivo. Tanto a independência de Kossovo, quanto a intervenção russa na Geórgia são lances de um conflito muito maior, de caráter indelevelmente geo-histórico, entre a Rússia e os Estados Unidos pelo controle da Eurásia. Conflito este que, ao contrário do que pensa muita gente, tem a Guerra Fria como apenas um dos seus lances. A independência de Kossovo de fato foi um golpe muito mais duro para a Sérvia do que para a Rússia, mas o fato é que o decisivo apoio de países da OTAN incentivou a Sérvia a não fazer o que a Geórgia fez contra os ossetos do sul. A Sérvia é um país que diferentemente dos outros ex-comunistas não se aproximou dos americanos para tentar contrabalançar a influência russa. E pra falar a verdade, aproximou-se fortemente da Rússia depois do fim da União Soviética. Um golpe contra a Sérvia, nesse contexto representa um golpe contra a Rússia, pois estabelece que países da OTAN (a aliança militar que existe para contrabalançar o poder russo na Europa) jogam um papel em uma região que fica a menos de 1,3 km da fronteira da Rússia. Além desse golpe, há outros parecidos na Polônia, na Ucrânia, no Azerbaijão e, inclusive, na própria Geórgia. O fato é que a Rússia tem tomado golpes freqüentes nesse conflito e a intervenção na Geórgia foi uma tentativa de contra-golpear. Só isso! Sendo assim, o que George Bush fez em relação ao Kossovo era interessante para ele e o que ele está fazendo agora em relação a esse conflito no Cáucaso também. O resto é só blá-blá-blá.