Se você tiver achado linda a auto-proclamação de independência de Kosovo, você tem que achar uma beleza o que a Rússia começou a fazer na Geórgia. Se você fosse George Bush e também cumprisse a condição que eu expus acima, você teria todos os instrumentos para ajudar os russos nessa maravilhosa defesa do direito à auto-determinação dos povos. Afinal, essa intervenção é para proteger a Ossétia do Sul, região que por não ser geórgia em termos culturais, tem pretendido se separar. Só que George Bush não fez o que a lógica resultante do inter-relacionamento das sentenças acima prevê. Você então já deve estar chamando George Bush (e isso não é pela primeira vez) de hipócrita e coisas assim. Se você está fazendo isso, é porque você é extremamente ingênuo e acha mais interessante o que as pessoas falam do que o que as pessoas realmente buscam. Ou, em outras palavras, preocupa-se com o discurso e esquece que o que move as pessoas são os interesses. Vou explicar melhor, utilizando uma "teoria" que pode até não ser a única que explique o que de fato está acontecendo, mas que é útil para o meu objetivo. Tanto a independência de Kossovo, quanto a intervenção russa na Geórgia são lances de um conflito muito maior, de caráter indelevelmente geo-histórico, entre a Rússia e os Estados Unidos pelo controle da Eurásia. Conflito este que, ao contrário do que pensa muita gente, tem a Guerra Fria como apenas um dos seus lances. A independência de Kossovo de fato foi um golpe muito mais duro para a Sérvia do que para a Rússia, mas o fato é que o decisivo apoio de países da OTAN incentivou a Sérvia a não fazer o que a Geórgia fez contra os ossetos do sul. A Sérvia é um país que diferentemente dos outros ex-comunistas não se aproximou dos americanos para tentar contrabalançar a influência russa. E pra falar a verdade, aproximou-se fortemente da Rússia depois do fim da União Soviética. Um golpe contra a Sérvia, nesse contexto representa um golpe contra a Rússia, pois estabelece que países da OTAN (a aliança militar que existe para contrabalançar o poder russo na Europa) jogam um papel em uma região que fica a menos de 1,3 km da fronteira da Rússia. Além desse golpe, há outros parecidos na Polônia, na Ucrânia, no Azerbaijão e, inclusive, na própria Geórgia. O fato é que a Rússia tem tomado golpes freqüentes nesse conflito e a intervenção na Geórgia foi uma tentativa de contra-golpear. Só isso! Sendo assim, o que George Bush fez em relação ao Kossovo era interessante para ele e o que ele está fazendo agora em relação a esse conflito no Cáucaso também. O resto é só blá-blá-blá.
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