Sunday, November 18, 2012
Egolombras e simplismos
Estive presente a algumas das exibições do Janela Internacional de Cinema. Duas das vezes assisti a filmes de diretores penambucanos. O primeiro deles, Boa Sorte Meu Amor (acho que não tem a devida vírgula e eu não lembro o nome do diretor). O segundo, Eles Voltam (Marcelo Lordelo). Sem querer entrar no tema "grande momento da produção cinematográfica pernambucana" farei resenhas sobre os dois.
Boa Sorte Meu Amor é uma egolombra total. Tecnicamente soa interessante. A fotografia é uma referência clara ao expressionismo alemão. E a estética acaba se encaixando muito bem no aspecto sombrio e bizarro que exibe a cidade onde se passa boa parte da história, Recife. Mas em termos de narrativa, a coisa é sofrível. Primeiro a trama fundamental do filme. Um cara encontra uma menina, gosta dela, começa a comê-la, ela engravida, desparece e ele vai atrás dela (por causa do amor sublime amor, pois ele não sabe que ela engravidou). Aí vem uma porra de uma história bisonha de descoberta das raízes. Coincidentemente, a moça é da mesma cidade. Sobre essa não dá pra entender se é da infância deles ou era a dos pais. Ninguém fez a menor questão de deixar isso claro. O que, sejamos razoáveis, não importava. Aí no final, o pai da moça a faz abortar o filho do protagonista. E eles não se encontram. O desfecho do filme é o cara tendo uma viagem, em que aparecem urubus comendo o suposto feto. Visualmente muito bom, frise-se.
Tudo isso seria mais uma historinha banal contada pelo cinema se no pano de fundo, o cara não fosse filho do dono de uma empresa que derruba casarões antigos na cidade do Recife para as malditas empresas do setor imobiliário pernambucano. Nesse ponto, a coisa se torna grotesca. E o ovo de codorna do caldinho de feijão da maior tensão existencial narrativa do filme é uma sequência que exibe imagens dos edifícios mais altos da cidade, com uma trilha de horror, cujo ápice se dá numa tomada de uns cinco segundos nas duas torres na beira do rio próximas ao Cais de Santa Rita, como se aquilo fosse a coisa mais aterrorizante que o ser humano pode perceber.
Que Recife tem passado por problemas advindos de um processo de reconfiguração urbana é sabido. Mas tornar esse tema o mote fundamental de uma ficção cinematográfica já é pra se fuder. Não que não se possa tocar no problema, mas o ativismo ingênuo do cineasta fica flagrante.
O outro filme é Eles Voltam. Também outro bom trabalho técnico e com um início bem promissor em termos de narrativa. Trata de uma menina que é deixada com o irmão em uma estrada margeada por canaviais (paisagem típica do caminho que leva às praias do litoral pernambucano). No ínício, enquanto a garotinha de doze anos está à beira da estrada, alternam-se o silêncio e o barulho estrondoso dos carros que passam. Isso dá bons elementos para a discussão dos problemas urbanos de Recife em especial, mas de todas as grandes cidades brasileiras com a sugestão: escuta como o carro é barulhento. O fundamento narrativo do filme é o encontro entre mundos. A garotinha é branca de classe média. Enquanto só e perdida no mundo é ajudada por trabalhadores rurais de aparência cabocla, mestiça. E é no desenvolvimento desse encontro que está o grande erro do filme. A tensão necessária de qualquer história com esse fundamento promovida pelo filme não é convincente. Primeiro a personagem é de uma apatia total. . As coisas vão acontecendo e ela com uma cara que não dá pra entender vai fazendo coisas irrelevantes. O problema não é da atriz e sim da personagem mesmo. Não diz a que veio. Não justifica a própria existência. Os diálogos são raros. Quando aparecem normalmente são curtos. O que não é curto é completamente superficial. Dá-se entre uma mocinha da Zona da Mata e a personagem principal do filme. O grande problema da primeira é a ausência de shoping na região, sugestão de problemática jogada com toda superficialidade possível.
A idéia do filme é bem interessante. Trata da completa alienação de crianças e adolescentes de clásse média e alta, que quando saem de casa, continuam no prédio, quando saem do prédio vão ao prédio de um colega da escola e passam a vida sem pegar um ônibus, pessoas cujos pais tem pavor de vê-los andar na rua. Isso é uma situação bem real na nossa sociedade. Outro dia, conversando com uma mãe, ela demonstrou estar horrorizada com a idéia que teve algum professor pirado do colégio do filho de levar a criançada pra dar uma volta a pé nos assustadores bairros de Casa Forte e Poço da Panela. Enquanto o mote da descoberta de outro mundo poderia fornecer possíbilidades interessantíssimas na sua narrativa, o filme parece o tempo inteiro flertar com o simplismo, às vezes, descamba pro clichê.
Não são evidentemente duas tragédias cinematográficas, mas
Tuesday, April 17, 2012
Ocupe Tejipió!
Bairro da Zona Oeste do Recife (sim dentro do município do Recife), Tejipió é um bairro cercado por trechos de Mata Atlântica, cortado pelo rio de mesmo nome que segue até a bacia do Pina se juntando com este rio e o Jordão para formar o veio d’água que de repente setores da sociedade recifense passaram a achar o mais lindo do mundo. Tejipió abriga também uma das grandes emergências do estado, o Hospital Otávio de Freitas, antiga referência no tratamento de tuberculosos, dado o puro e bucólico ar da região. Tejipió ainda é cortado por uma avenida que tem pelo menos uns três nomes, mas que começa lá no centro de Jaboatão e vai bater em Afogados, o que propicia ligação com o centro da cidade pela Avenida Sul (paralela ao cais José Estelita). Além desse caminho, muito próximo ao bairro passa a BR 232, que também, virando a Abdias de Carvalho e cortando a Agamenon, leva ao centro. Há dois grandes quarteis do Exército e muitas escolas públicas. Uma maternidade e evidentemente um grande comércio local. Faz fronteira com outros bairros importantes da cidade como Jardim São Paulo e Curado e com o município de Jaboatão, cujos bairros lindeiros a Tejipió são o Alto do Pacheco e Cavaleiro, grande centro de comércio popular da RMR. O mais importante de tudo é que corta Tejipió, a linha Leste-oeste do metrô do Recife. Chega-se do bairro na Estação do Recife, no centro da cidade em menos de 20 minutos com o transporte, que agora tem ar condicionado. Você, que foi domingo ao Cais José Estelita, sabia disso?
Fui fortemente censurado por me negar a participar do Ocupe Estelita. Neguei-me por uma série de coisas (entre elas aproveitar meu ócio dominical tomando cervejas amargas e comendo iguarias adiposas num mercado público), mas a fundamental é que eu me opus à ingenua incoerência do grosso do movimento, que ao querer demonizar o setor imobiliário e o projeto Novo Recife não atenta para um problema fundamental da questão da ocupação do espaço urbano na cidade. Primeiramente, a tirar pelos meus amigos de Facebook que manifestaram apoio ao movimento, este é formado predominantemente por quem mora na meia lua de prosperidade do Recife, que vai de Boa Viagem até Casa Forte. Ora, fugindo da superficial hipótese que afirma que quem mora em prédio alto não pode ser contra a construção de prédio alto, vamos à maldita teoria econômica para esclarecer o ponto de discordância. Num mercado de um bem (maldito mercado) existem consumidores (demanda) e produtores (oferta) que travam relações fundamentalmente mediadas pelo preço do bem. O preço variará enquanto as quantidades ofertadas e demandadas não forem idênticas; quando forem, essa situação será chamada de preço de equilíbrio. As curvas de oferta e demanda, entretanto podem sofrer deslocamentos. Se uma delas sofre e a outra não (ou sofrem juntas, mas não na mesma medida), haverá variações de preço. Observando a situação a partir dos possíveis atores, consumidores e produtores, os primeiros são desestimulados a consumir quando o preço aumenta, da mesma forma que os segundos são incentivados a produzir quando o preço aumenta. Uma das razões de aumentos no preço é uma mudança na estrutura na demanda (deslocamento da curva para a direita). Nessa situação, o produtor é incentivado a produzir até que o preço pare de subir (preço de equilíbrio). Na hipótese de a demanda continuar se deslocando para a direita, não haverá limites ao incentivo de produzir.
Sem querer tornar esse modelo teórico uma filosofia social (tarefa tão cretina quanto tornar o comunismo uma filosofia da mesma espécie), é possível usá-lo para explicar parte do motivo da minha negativa em participar da manifestação. Quando, ao escolher morar no arco de prosperidade da cidade, o indivíduo está ajudando a provocar deslocamentos para a direita da curva de demanda por unidades habitacionais nessa região e isso acarreta aumento do preço. Como o preço se torna constantemente mais baixo que o preço de equilíbrio, o setor imobiliário é incentivado a produzir e ofertar unidades habitacionais na região até quando puder.
É fundamental reconhecer, por outro lado, que a ocupação do espaço urbano na RMR tende a ser guiada pelos interesses das imobiliárias em ofertar habitação para cidadãos que querem morar em bairros legais e descolados, ou simplesmente que tenham uma ampla oferta de bens e serviços (não só públicos). A ideia contra a qual reage o movimento é legítima. O Novo Recife está muito longe de ser benéfico à cidade, mas em vez de consumir unidades habitacionais em Boa Viagem e Casa Forte, os manifestantes poderiam pôr na sua agenda a possibilidade de consumir unidades habitacionais em outros bairros.
E é uma questão de escolha. Afinal, no trajeto das Graças ao centro no horário do rush, gasta-se cerca de meia hora dentro de um automóvel. Há bairros fora do arco de prosperidade onde esse tempo de deslocamento é menor – e de metrô com ar condicionado. Há uns meses atrás, houve uma campanha (o Facebook é cheio delas) reclamando dos preços exorbitantes dos shows de Chico Buarque no Recife. Em vez de reclamar, basta não comprar. Isso desloca a curva de demanda. É plausível considerar que há tendências a um mercado como o de ingressos de Chico Buarque ser um livre mercado. Em vez de reclamar, tome decisões para guiar a mão invisível. Elas baixam o preço e reduzem os incentivos dos agentes econômicos do lado da oferta. Em vez de ocupar o Estelita, ocupe Tejipió! Estou inclinado a achar que haverá mais congruência entre ações e intenções.
Fui fortemente censurado por me negar a participar do Ocupe Estelita. Neguei-me por uma série de coisas (entre elas aproveitar meu ócio dominical tomando cervejas amargas e comendo iguarias adiposas num mercado público), mas a fundamental é que eu me opus à ingenua incoerência do grosso do movimento, que ao querer demonizar o setor imobiliário e o projeto Novo Recife não atenta para um problema fundamental da questão da ocupação do espaço urbano na cidade. Primeiramente, a tirar pelos meus amigos de Facebook que manifestaram apoio ao movimento, este é formado predominantemente por quem mora na meia lua de prosperidade do Recife, que vai de Boa Viagem até Casa Forte. Ora, fugindo da superficial hipótese que afirma que quem mora em prédio alto não pode ser contra a construção de prédio alto, vamos à maldita teoria econômica para esclarecer o ponto de discordância. Num mercado de um bem (maldito mercado) existem consumidores (demanda) e produtores (oferta) que travam relações fundamentalmente mediadas pelo preço do bem. O preço variará enquanto as quantidades ofertadas e demandadas não forem idênticas; quando forem, essa situação será chamada de preço de equilíbrio. As curvas de oferta e demanda, entretanto podem sofrer deslocamentos. Se uma delas sofre e a outra não (ou sofrem juntas, mas não na mesma medida), haverá variações de preço. Observando a situação a partir dos possíveis atores, consumidores e produtores, os primeiros são desestimulados a consumir quando o preço aumenta, da mesma forma que os segundos são incentivados a produzir quando o preço aumenta. Uma das razões de aumentos no preço é uma mudança na estrutura na demanda (deslocamento da curva para a direita). Nessa situação, o produtor é incentivado a produzir até que o preço pare de subir (preço de equilíbrio). Na hipótese de a demanda continuar se deslocando para a direita, não haverá limites ao incentivo de produzir.
Sem querer tornar esse modelo teórico uma filosofia social (tarefa tão cretina quanto tornar o comunismo uma filosofia da mesma espécie), é possível usá-lo para explicar parte do motivo da minha negativa em participar da manifestação. Quando, ao escolher morar no arco de prosperidade da cidade, o indivíduo está ajudando a provocar deslocamentos para a direita da curva de demanda por unidades habitacionais nessa região e isso acarreta aumento do preço. Como o preço se torna constantemente mais baixo que o preço de equilíbrio, o setor imobiliário é incentivado a produzir e ofertar unidades habitacionais na região até quando puder.
É fundamental reconhecer, por outro lado, que a ocupação do espaço urbano na RMR tende a ser guiada pelos interesses das imobiliárias em ofertar habitação para cidadãos que querem morar em bairros legais e descolados, ou simplesmente que tenham uma ampla oferta de bens e serviços (não só públicos). A ideia contra a qual reage o movimento é legítima. O Novo Recife está muito longe de ser benéfico à cidade, mas em vez de consumir unidades habitacionais em Boa Viagem e Casa Forte, os manifestantes poderiam pôr na sua agenda a possibilidade de consumir unidades habitacionais em outros bairros.
E é uma questão de escolha. Afinal, no trajeto das Graças ao centro no horário do rush, gasta-se cerca de meia hora dentro de um automóvel. Há bairros fora do arco de prosperidade onde esse tempo de deslocamento é menor – e de metrô com ar condicionado. Há uns meses atrás, houve uma campanha (o Facebook é cheio delas) reclamando dos preços exorbitantes dos shows de Chico Buarque no Recife. Em vez de reclamar, basta não comprar. Isso desloca a curva de demanda. É plausível considerar que há tendências a um mercado como o de ingressos de Chico Buarque ser um livre mercado. Em vez de reclamar, tome decisões para guiar a mão invisível. Elas baixam o preço e reduzem os incentivos dos agentes econômicos do lado da oferta. Em vez de ocupar o Estelita, ocupe Tejipió! Estou inclinado a achar que haverá mais congruência entre ações e intenções.
Tuesday, March 20, 2012
Bicletas, macacos e mobilidade urbana
A classe média brasileira para além das clássicas divisões com base em critérios de renda pode ser dividida em quatro grupos. O primeiro é a classe média brasileira norte-americanizada. Esse grupo espera as férias para dar umas voltas em Miami e Nova York e comprar roupas de grife e eletrônicos e, por externalidade, fuder o saldo em transações correntes do comércio exterior brasileiro. O segundo grupo parece muito com o primeiro, entretanto, como tem uma renda um pouco menor para financiar uma viagem a um país de moeda mais forte vai para a Argentina nas férias com vistas a dobrar o poder aquisitivo e comprar artigos esportivos de grife e outras bugigangas, e também por externalidade, fuder o saldo em transações correntes do comércio exterior brasileiro. O terceiro grupo também vai para Argentina por questões econômicas, mas vai para comer e beber vinho bom e barato e passear de barquinho pelos canais de Tigre. Como não poderia deixar de ser, esse grupo também ajuda a fuder o saldo em transações correntes do comércio exterior brasileiro. O quarto grupo, é a classe média europeizada. Parece com o terceiro, mas como tem mais renda, vai comer e beber na Europa e passear de vaporetto na Laguna ou de bicicleta em Amsterdã. Ainda assim, também ajuda a fuder o saldo de transações correntes do país.
Essa verdadeira nova e cretina taxonomia da classe média brasileira serve apenas para a ampliação do arsenal cognitivo da humanidade, até porque para os nossos propósitos nesse texto, basta a definição do quarto grupo. Ultimamente tem aumentado nas redes sociais a campanha de apoio à utilização da bicicleta como meio de transporte ordinário na maravilhosa, úmida e calorenta cidade do Recife. A nossa classe média europeizada tem liderado essas movimentações utilizando fortemente dois argumentos, a saber: a diminuição da demanda por espaço viário; a promoção da saúde e do bem estar urbanos, tanto pela prática de exercícios físicos, quanto pela diminuição das emissões de gases nocivos. Primeiro, gostaria de revelar que ultimamente tenho usado a bicicleta para me movimentar, embora eu esteja de férias. Além disso, gostaria de admitir que faço parte dessa classe média europeizada que gosta do veículo. Entretanto, sejamos francos e realistas, as bicicletas não são a panaceia para o caos que se tornou o problema da mobilidade na RMR. Vamos então às contra-argumentações.
Primeiro, contra a ideia da diminuição da demanda por espaço viário, a bicicleta ocupa quase tanto espaço quanto uma motocicleta. E enquanto a primeira rarissimamente pode levar duas pessoas, a segunda normalmente pode. Se o poder público iniciar a implementação de ciclovias e ciclo-faixas nas vias, não vai demorar muito para que estes caminhos estejam congestionados. Além do que, no momento inicial a situação vai se tornar o verdadeiro helter skelter, pois as pessoas não vão deixar de usar o automóvel particular no outro dia. E não é um problema só da fricção adaptativa. A quantidade de carros não parece ter elasticidade-engarrafamento muito alta. Em outras palavras, poucos deixam de usar o carro porque o caminho está engarrafado.
Agora contra a ideia da promoção da saúde e do bem-estar urbanos, preciso recorrer às hipóteses do comportamentalismo animal. Animais têm uma tendência clara que fundamenta o seu modo de vida e por consequência seu comportamento normal: maximizar o saldo de energia no processo de absorção e utilização dos nutrientes. Muito já se confirmou que a progressiva sedentarização do homo sapiens tem levado a nossa espécie à obesidade. Já se confirmou também que a necessidade de adquirir hábitos saudáveis na nossa vida cotidiana é uma urgência. Praticar exercícios físicos tornou-se uma necessidade, já que essa conduta substituiu os ônus energéticos com que a espécie tinha que arcar para achar fontes de energia, contribuindo para o equilíbrio da nossa massa corpórea. De fato, há muita lógica no raciocínio que embasa essa ideia, mas as estatísticas sobre biologia comportamental nos mostram claramente que o comportamento mediano do ser humano não tende a ser mais racional do que o de um macaco. Sendo assim, não se deve pensar que nossos cidadãos (condenados estatisticamente a se aproximarem da linha mediana da inteligência) vão repentinamente se dispor a pedalar por quilômetros porque isso vai ser bom para a saúde deles. É mais improvável ainda que os que adotem, mantenham o hábito num longo prazo. Além do mais, as condições climático-meteorológicas da cidade contribuem bastante para que sempre se queira estar em um lugar com ar condicionado.
Faço então uma defesa do transporte público de massas como fundamento da mobilidade urbana numa metrópole inchada como o Recife. Não obstante, as bicicletas e os deslocamentos a pé devam fazer parte da lógica da eficiência da mobilidade, estes meios devem ser secundários. Coisas como metrô e sistema de ônibus metrolizado (VLP ou VLT) é que devem ser exigidos. Esses meios apresentam grande eficiência, já que possuem alta taxa de passageiros por área ocupada. Outra saída são as águas da cidade. A ideia da transformação do Capibaribe em hidrovia urbana para transporte público é fantástica e deve ser ampliada, tanto para os outros rios da metrópole (Beberibe, Jordão, Tejipió, Jaboatão), quanto para os canais. Tudo isso com base no conceito de que em termos de transporte público de massas, mais é mais.
Essa verdadeira nova e cretina taxonomia da classe média brasileira serve apenas para a ampliação do arsenal cognitivo da humanidade, até porque para os nossos propósitos nesse texto, basta a definição do quarto grupo. Ultimamente tem aumentado nas redes sociais a campanha de apoio à utilização da bicicleta como meio de transporte ordinário na maravilhosa, úmida e calorenta cidade do Recife. A nossa classe média europeizada tem liderado essas movimentações utilizando fortemente dois argumentos, a saber: a diminuição da demanda por espaço viário; a promoção da saúde e do bem estar urbanos, tanto pela prática de exercícios físicos, quanto pela diminuição das emissões de gases nocivos. Primeiro, gostaria de revelar que ultimamente tenho usado a bicicleta para me movimentar, embora eu esteja de férias. Além disso, gostaria de admitir que faço parte dessa classe média europeizada que gosta do veículo. Entretanto, sejamos francos e realistas, as bicicletas não são a panaceia para o caos que se tornou o problema da mobilidade na RMR. Vamos então às contra-argumentações.
Primeiro, contra a ideia da diminuição da demanda por espaço viário, a bicicleta ocupa quase tanto espaço quanto uma motocicleta. E enquanto a primeira rarissimamente pode levar duas pessoas, a segunda normalmente pode. Se o poder público iniciar a implementação de ciclovias e ciclo-faixas nas vias, não vai demorar muito para que estes caminhos estejam congestionados. Além do que, no momento inicial a situação vai se tornar o verdadeiro helter skelter, pois as pessoas não vão deixar de usar o automóvel particular no outro dia. E não é um problema só da fricção adaptativa. A quantidade de carros não parece ter elasticidade-engarrafamento muito alta. Em outras palavras, poucos deixam de usar o carro porque o caminho está engarrafado.
Agora contra a ideia da promoção da saúde e do bem-estar urbanos, preciso recorrer às hipóteses do comportamentalismo animal. Animais têm uma tendência clara que fundamenta o seu modo de vida e por consequência seu comportamento normal: maximizar o saldo de energia no processo de absorção e utilização dos nutrientes. Muito já se confirmou que a progressiva sedentarização do homo sapiens tem levado a nossa espécie à obesidade. Já se confirmou também que a necessidade de adquirir hábitos saudáveis na nossa vida cotidiana é uma urgência. Praticar exercícios físicos tornou-se uma necessidade, já que essa conduta substituiu os ônus energéticos com que a espécie tinha que arcar para achar fontes de energia, contribuindo para o equilíbrio da nossa massa corpórea. De fato, há muita lógica no raciocínio que embasa essa ideia, mas as estatísticas sobre biologia comportamental nos mostram claramente que o comportamento mediano do ser humano não tende a ser mais racional do que o de um macaco. Sendo assim, não se deve pensar que nossos cidadãos (condenados estatisticamente a se aproximarem da linha mediana da inteligência) vão repentinamente se dispor a pedalar por quilômetros porque isso vai ser bom para a saúde deles. É mais improvável ainda que os que adotem, mantenham o hábito num longo prazo. Além do mais, as condições climático-meteorológicas da cidade contribuem bastante para que sempre se queira estar em um lugar com ar condicionado.
Faço então uma defesa do transporte público de massas como fundamento da mobilidade urbana numa metrópole inchada como o Recife. Não obstante, as bicicletas e os deslocamentos a pé devam fazer parte da lógica da eficiência da mobilidade, estes meios devem ser secundários. Coisas como metrô e sistema de ônibus metrolizado (VLP ou VLT) é que devem ser exigidos. Esses meios apresentam grande eficiência, já que possuem alta taxa de passageiros por área ocupada. Outra saída são as águas da cidade. A ideia da transformação do Capibaribe em hidrovia urbana para transporte público é fantástica e deve ser ampliada, tanto para os outros rios da metrópole (Beberibe, Jordão, Tejipió, Jaboatão), quanto para os canais. Tudo isso com base no conceito de que em termos de transporte público de massas, mais é mais.
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