Sunday, November 18, 2012
Egolombras e simplismos
Estive presente a algumas das exibições do Janela Internacional de Cinema. Duas das vezes assisti a filmes de diretores penambucanos. O primeiro deles, Boa Sorte Meu Amor (acho que não tem a devida vírgula e eu não lembro o nome do diretor). O segundo, Eles Voltam (Marcelo Lordelo). Sem querer entrar no tema "grande momento da produção cinematográfica pernambucana" farei resenhas sobre os dois.
Boa Sorte Meu Amor é uma egolombra total. Tecnicamente soa interessante. A fotografia é uma referência clara ao expressionismo alemão. E a estética acaba se encaixando muito bem no aspecto sombrio e bizarro que exibe a cidade onde se passa boa parte da história, Recife. Mas em termos de narrativa, a coisa é sofrível. Primeiro a trama fundamental do filme. Um cara encontra uma menina, gosta dela, começa a comê-la, ela engravida, desparece e ele vai atrás dela (por causa do amor sublime amor, pois ele não sabe que ela engravidou). Aí vem uma porra de uma história bisonha de descoberta das raízes. Coincidentemente, a moça é da mesma cidade. Sobre essa não dá pra entender se é da infância deles ou era a dos pais. Ninguém fez a menor questão de deixar isso claro. O que, sejamos razoáveis, não importava. Aí no final, o pai da moça a faz abortar o filho do protagonista. E eles não se encontram. O desfecho do filme é o cara tendo uma viagem, em que aparecem urubus comendo o suposto feto. Visualmente muito bom, frise-se.
Tudo isso seria mais uma historinha banal contada pelo cinema se no pano de fundo, o cara não fosse filho do dono de uma empresa que derruba casarões antigos na cidade do Recife para as malditas empresas do setor imobiliário pernambucano. Nesse ponto, a coisa se torna grotesca. E o ovo de codorna do caldinho de feijão da maior tensão existencial narrativa do filme é uma sequência que exibe imagens dos edifícios mais altos da cidade, com uma trilha de horror, cujo ápice se dá numa tomada de uns cinco segundos nas duas torres na beira do rio próximas ao Cais de Santa Rita, como se aquilo fosse a coisa mais aterrorizante que o ser humano pode perceber.
Que Recife tem passado por problemas advindos de um processo de reconfiguração urbana é sabido. Mas tornar esse tema o mote fundamental de uma ficção cinematográfica já é pra se fuder. Não que não se possa tocar no problema, mas o ativismo ingênuo do cineasta fica flagrante.
O outro filme é Eles Voltam. Também outro bom trabalho técnico e com um início bem promissor em termos de narrativa. Trata de uma menina que é deixada com o irmão em uma estrada margeada por canaviais (paisagem típica do caminho que leva às praias do litoral pernambucano). No ínício, enquanto a garotinha de doze anos está à beira da estrada, alternam-se o silêncio e o barulho estrondoso dos carros que passam. Isso dá bons elementos para a discussão dos problemas urbanos de Recife em especial, mas de todas as grandes cidades brasileiras com a sugestão: escuta como o carro é barulhento. O fundamento narrativo do filme é o encontro entre mundos. A garotinha é branca de classe média. Enquanto só e perdida no mundo é ajudada por trabalhadores rurais de aparência cabocla, mestiça. E é no desenvolvimento desse encontro que está o grande erro do filme. A tensão necessária de qualquer história com esse fundamento promovida pelo filme não é convincente. Primeiro a personagem é de uma apatia total. . As coisas vão acontecendo e ela com uma cara que não dá pra entender vai fazendo coisas irrelevantes. O problema não é da atriz e sim da personagem mesmo. Não diz a que veio. Não justifica a própria existência. Os diálogos são raros. Quando aparecem normalmente são curtos. O que não é curto é completamente superficial. Dá-se entre uma mocinha da Zona da Mata e a personagem principal do filme. O grande problema da primeira é a ausência de shoping na região, sugestão de problemática jogada com toda superficialidade possível.
A idéia do filme é bem interessante. Trata da completa alienação de crianças e adolescentes de clásse média e alta, que quando saem de casa, continuam no prédio, quando saem do prédio vão ao prédio de um colega da escola e passam a vida sem pegar um ônibus, pessoas cujos pais tem pavor de vê-los andar na rua. Isso é uma situação bem real na nossa sociedade. Outro dia, conversando com uma mãe, ela demonstrou estar horrorizada com a idéia que teve algum professor pirado do colégio do filho de levar a criançada pra dar uma volta a pé nos assustadores bairros de Casa Forte e Poço da Panela. Enquanto o mote da descoberta de outro mundo poderia fornecer possíbilidades interessantíssimas na sua narrativa, o filme parece o tempo inteiro flertar com o simplismo, às vezes, descamba pro clichê.
Não são evidentemente duas tragédias cinematográficas, mas
Tuesday, April 17, 2012
Ocupe Tejipió!
Bairro da Zona Oeste do Recife (sim dentro do município do Recife), Tejipió é um bairro cercado por trechos de Mata Atlântica, cortado pelo rio de mesmo nome que segue até a bacia do Pina se juntando com este rio e o Jordão para formar o veio d’água que de repente setores da sociedade recifense passaram a achar o mais lindo do mundo. Tejipió abriga também uma das grandes emergências do estado, o Hospital Otávio de Freitas, antiga referência no tratamento de tuberculosos, dado o puro e bucólico ar da região. Tejipió ainda é cortado por uma avenida que tem pelo menos uns três nomes, mas que começa lá no centro de Jaboatão e vai bater em Afogados, o que propicia ligação com o centro da cidade pela Avenida Sul (paralela ao cais José Estelita). Além desse caminho, muito próximo ao bairro passa a BR 232, que também, virando a Abdias de Carvalho e cortando a Agamenon, leva ao centro. Há dois grandes quarteis do Exército e muitas escolas públicas. Uma maternidade e evidentemente um grande comércio local. Faz fronteira com outros bairros importantes da cidade como Jardim São Paulo e Curado e com o município de Jaboatão, cujos bairros lindeiros a Tejipió são o Alto do Pacheco e Cavaleiro, grande centro de comércio popular da RMR. O mais importante de tudo é que corta Tejipió, a linha Leste-oeste do metrô do Recife. Chega-se do bairro na Estação do Recife, no centro da cidade em menos de 20 minutos com o transporte, que agora tem ar condicionado. Você, que foi domingo ao Cais José Estelita, sabia disso?
Fui fortemente censurado por me negar a participar do Ocupe Estelita. Neguei-me por uma série de coisas (entre elas aproveitar meu ócio dominical tomando cervejas amargas e comendo iguarias adiposas num mercado público), mas a fundamental é que eu me opus à ingenua incoerência do grosso do movimento, que ao querer demonizar o setor imobiliário e o projeto Novo Recife não atenta para um problema fundamental da questão da ocupação do espaço urbano na cidade. Primeiramente, a tirar pelos meus amigos de Facebook que manifestaram apoio ao movimento, este é formado predominantemente por quem mora na meia lua de prosperidade do Recife, que vai de Boa Viagem até Casa Forte. Ora, fugindo da superficial hipótese que afirma que quem mora em prédio alto não pode ser contra a construção de prédio alto, vamos à maldita teoria econômica para esclarecer o ponto de discordância. Num mercado de um bem (maldito mercado) existem consumidores (demanda) e produtores (oferta) que travam relações fundamentalmente mediadas pelo preço do bem. O preço variará enquanto as quantidades ofertadas e demandadas não forem idênticas; quando forem, essa situação será chamada de preço de equilíbrio. As curvas de oferta e demanda, entretanto podem sofrer deslocamentos. Se uma delas sofre e a outra não (ou sofrem juntas, mas não na mesma medida), haverá variações de preço. Observando a situação a partir dos possíveis atores, consumidores e produtores, os primeiros são desestimulados a consumir quando o preço aumenta, da mesma forma que os segundos são incentivados a produzir quando o preço aumenta. Uma das razões de aumentos no preço é uma mudança na estrutura na demanda (deslocamento da curva para a direita). Nessa situação, o produtor é incentivado a produzir até que o preço pare de subir (preço de equilíbrio). Na hipótese de a demanda continuar se deslocando para a direita, não haverá limites ao incentivo de produzir.
Sem querer tornar esse modelo teórico uma filosofia social (tarefa tão cretina quanto tornar o comunismo uma filosofia da mesma espécie), é possível usá-lo para explicar parte do motivo da minha negativa em participar da manifestação. Quando, ao escolher morar no arco de prosperidade da cidade, o indivíduo está ajudando a provocar deslocamentos para a direita da curva de demanda por unidades habitacionais nessa região e isso acarreta aumento do preço. Como o preço se torna constantemente mais baixo que o preço de equilíbrio, o setor imobiliário é incentivado a produzir e ofertar unidades habitacionais na região até quando puder.
É fundamental reconhecer, por outro lado, que a ocupação do espaço urbano na RMR tende a ser guiada pelos interesses das imobiliárias em ofertar habitação para cidadãos que querem morar em bairros legais e descolados, ou simplesmente que tenham uma ampla oferta de bens e serviços (não só públicos). A ideia contra a qual reage o movimento é legítima. O Novo Recife está muito longe de ser benéfico à cidade, mas em vez de consumir unidades habitacionais em Boa Viagem e Casa Forte, os manifestantes poderiam pôr na sua agenda a possibilidade de consumir unidades habitacionais em outros bairros.
E é uma questão de escolha. Afinal, no trajeto das Graças ao centro no horário do rush, gasta-se cerca de meia hora dentro de um automóvel. Há bairros fora do arco de prosperidade onde esse tempo de deslocamento é menor – e de metrô com ar condicionado. Há uns meses atrás, houve uma campanha (o Facebook é cheio delas) reclamando dos preços exorbitantes dos shows de Chico Buarque no Recife. Em vez de reclamar, basta não comprar. Isso desloca a curva de demanda. É plausível considerar que há tendências a um mercado como o de ingressos de Chico Buarque ser um livre mercado. Em vez de reclamar, tome decisões para guiar a mão invisível. Elas baixam o preço e reduzem os incentivos dos agentes econômicos do lado da oferta. Em vez de ocupar o Estelita, ocupe Tejipió! Estou inclinado a achar que haverá mais congruência entre ações e intenções.
Fui fortemente censurado por me negar a participar do Ocupe Estelita. Neguei-me por uma série de coisas (entre elas aproveitar meu ócio dominical tomando cervejas amargas e comendo iguarias adiposas num mercado público), mas a fundamental é que eu me opus à ingenua incoerência do grosso do movimento, que ao querer demonizar o setor imobiliário e o projeto Novo Recife não atenta para um problema fundamental da questão da ocupação do espaço urbano na cidade. Primeiramente, a tirar pelos meus amigos de Facebook que manifestaram apoio ao movimento, este é formado predominantemente por quem mora na meia lua de prosperidade do Recife, que vai de Boa Viagem até Casa Forte. Ora, fugindo da superficial hipótese que afirma que quem mora em prédio alto não pode ser contra a construção de prédio alto, vamos à maldita teoria econômica para esclarecer o ponto de discordância. Num mercado de um bem (maldito mercado) existem consumidores (demanda) e produtores (oferta) que travam relações fundamentalmente mediadas pelo preço do bem. O preço variará enquanto as quantidades ofertadas e demandadas não forem idênticas; quando forem, essa situação será chamada de preço de equilíbrio. As curvas de oferta e demanda, entretanto podem sofrer deslocamentos. Se uma delas sofre e a outra não (ou sofrem juntas, mas não na mesma medida), haverá variações de preço. Observando a situação a partir dos possíveis atores, consumidores e produtores, os primeiros são desestimulados a consumir quando o preço aumenta, da mesma forma que os segundos são incentivados a produzir quando o preço aumenta. Uma das razões de aumentos no preço é uma mudança na estrutura na demanda (deslocamento da curva para a direita). Nessa situação, o produtor é incentivado a produzir até que o preço pare de subir (preço de equilíbrio). Na hipótese de a demanda continuar se deslocando para a direita, não haverá limites ao incentivo de produzir.
Sem querer tornar esse modelo teórico uma filosofia social (tarefa tão cretina quanto tornar o comunismo uma filosofia da mesma espécie), é possível usá-lo para explicar parte do motivo da minha negativa em participar da manifestação. Quando, ao escolher morar no arco de prosperidade da cidade, o indivíduo está ajudando a provocar deslocamentos para a direita da curva de demanda por unidades habitacionais nessa região e isso acarreta aumento do preço. Como o preço se torna constantemente mais baixo que o preço de equilíbrio, o setor imobiliário é incentivado a produzir e ofertar unidades habitacionais na região até quando puder.
É fundamental reconhecer, por outro lado, que a ocupação do espaço urbano na RMR tende a ser guiada pelos interesses das imobiliárias em ofertar habitação para cidadãos que querem morar em bairros legais e descolados, ou simplesmente que tenham uma ampla oferta de bens e serviços (não só públicos). A ideia contra a qual reage o movimento é legítima. O Novo Recife está muito longe de ser benéfico à cidade, mas em vez de consumir unidades habitacionais em Boa Viagem e Casa Forte, os manifestantes poderiam pôr na sua agenda a possibilidade de consumir unidades habitacionais em outros bairros.
E é uma questão de escolha. Afinal, no trajeto das Graças ao centro no horário do rush, gasta-se cerca de meia hora dentro de um automóvel. Há bairros fora do arco de prosperidade onde esse tempo de deslocamento é menor – e de metrô com ar condicionado. Há uns meses atrás, houve uma campanha (o Facebook é cheio delas) reclamando dos preços exorbitantes dos shows de Chico Buarque no Recife. Em vez de reclamar, basta não comprar. Isso desloca a curva de demanda. É plausível considerar que há tendências a um mercado como o de ingressos de Chico Buarque ser um livre mercado. Em vez de reclamar, tome decisões para guiar a mão invisível. Elas baixam o preço e reduzem os incentivos dos agentes econômicos do lado da oferta. Em vez de ocupar o Estelita, ocupe Tejipió! Estou inclinado a achar que haverá mais congruência entre ações e intenções.
Tuesday, March 20, 2012
Bicletas, macacos e mobilidade urbana
A classe média brasileira para além das clássicas divisões com base em critérios de renda pode ser dividida em quatro grupos. O primeiro é a classe média brasileira norte-americanizada. Esse grupo espera as férias para dar umas voltas em Miami e Nova York e comprar roupas de grife e eletrônicos e, por externalidade, fuder o saldo em transações correntes do comércio exterior brasileiro. O segundo grupo parece muito com o primeiro, entretanto, como tem uma renda um pouco menor para financiar uma viagem a um país de moeda mais forte vai para a Argentina nas férias com vistas a dobrar o poder aquisitivo e comprar artigos esportivos de grife e outras bugigangas, e também por externalidade, fuder o saldo em transações correntes do comércio exterior brasileiro. O terceiro grupo também vai para Argentina por questões econômicas, mas vai para comer e beber vinho bom e barato e passear de barquinho pelos canais de Tigre. Como não poderia deixar de ser, esse grupo também ajuda a fuder o saldo em transações correntes do comércio exterior brasileiro. O quarto grupo, é a classe média europeizada. Parece com o terceiro, mas como tem mais renda, vai comer e beber na Europa e passear de vaporetto na Laguna ou de bicicleta em Amsterdã. Ainda assim, também ajuda a fuder o saldo de transações correntes do país.
Essa verdadeira nova e cretina taxonomia da classe média brasileira serve apenas para a ampliação do arsenal cognitivo da humanidade, até porque para os nossos propósitos nesse texto, basta a definição do quarto grupo. Ultimamente tem aumentado nas redes sociais a campanha de apoio à utilização da bicicleta como meio de transporte ordinário na maravilhosa, úmida e calorenta cidade do Recife. A nossa classe média europeizada tem liderado essas movimentações utilizando fortemente dois argumentos, a saber: a diminuição da demanda por espaço viário; a promoção da saúde e do bem estar urbanos, tanto pela prática de exercícios físicos, quanto pela diminuição das emissões de gases nocivos. Primeiro, gostaria de revelar que ultimamente tenho usado a bicicleta para me movimentar, embora eu esteja de férias. Além disso, gostaria de admitir que faço parte dessa classe média europeizada que gosta do veículo. Entretanto, sejamos francos e realistas, as bicicletas não são a panaceia para o caos que se tornou o problema da mobilidade na RMR. Vamos então às contra-argumentações.
Primeiro, contra a ideia da diminuição da demanda por espaço viário, a bicicleta ocupa quase tanto espaço quanto uma motocicleta. E enquanto a primeira rarissimamente pode levar duas pessoas, a segunda normalmente pode. Se o poder público iniciar a implementação de ciclovias e ciclo-faixas nas vias, não vai demorar muito para que estes caminhos estejam congestionados. Além do que, no momento inicial a situação vai se tornar o verdadeiro helter skelter, pois as pessoas não vão deixar de usar o automóvel particular no outro dia. E não é um problema só da fricção adaptativa. A quantidade de carros não parece ter elasticidade-engarrafamento muito alta. Em outras palavras, poucos deixam de usar o carro porque o caminho está engarrafado.
Agora contra a ideia da promoção da saúde e do bem-estar urbanos, preciso recorrer às hipóteses do comportamentalismo animal. Animais têm uma tendência clara que fundamenta o seu modo de vida e por consequência seu comportamento normal: maximizar o saldo de energia no processo de absorção e utilização dos nutrientes. Muito já se confirmou que a progressiva sedentarização do homo sapiens tem levado a nossa espécie à obesidade. Já se confirmou também que a necessidade de adquirir hábitos saudáveis na nossa vida cotidiana é uma urgência. Praticar exercícios físicos tornou-se uma necessidade, já que essa conduta substituiu os ônus energéticos com que a espécie tinha que arcar para achar fontes de energia, contribuindo para o equilíbrio da nossa massa corpórea. De fato, há muita lógica no raciocínio que embasa essa ideia, mas as estatísticas sobre biologia comportamental nos mostram claramente que o comportamento mediano do ser humano não tende a ser mais racional do que o de um macaco. Sendo assim, não se deve pensar que nossos cidadãos (condenados estatisticamente a se aproximarem da linha mediana da inteligência) vão repentinamente se dispor a pedalar por quilômetros porque isso vai ser bom para a saúde deles. É mais improvável ainda que os que adotem, mantenham o hábito num longo prazo. Além do mais, as condições climático-meteorológicas da cidade contribuem bastante para que sempre se queira estar em um lugar com ar condicionado.
Faço então uma defesa do transporte público de massas como fundamento da mobilidade urbana numa metrópole inchada como o Recife. Não obstante, as bicicletas e os deslocamentos a pé devam fazer parte da lógica da eficiência da mobilidade, estes meios devem ser secundários. Coisas como metrô e sistema de ônibus metrolizado (VLP ou VLT) é que devem ser exigidos. Esses meios apresentam grande eficiência, já que possuem alta taxa de passageiros por área ocupada. Outra saída são as águas da cidade. A ideia da transformação do Capibaribe em hidrovia urbana para transporte público é fantástica e deve ser ampliada, tanto para os outros rios da metrópole (Beberibe, Jordão, Tejipió, Jaboatão), quanto para os canais. Tudo isso com base no conceito de que em termos de transporte público de massas, mais é mais.
Essa verdadeira nova e cretina taxonomia da classe média brasileira serve apenas para a ampliação do arsenal cognitivo da humanidade, até porque para os nossos propósitos nesse texto, basta a definição do quarto grupo. Ultimamente tem aumentado nas redes sociais a campanha de apoio à utilização da bicicleta como meio de transporte ordinário na maravilhosa, úmida e calorenta cidade do Recife. A nossa classe média europeizada tem liderado essas movimentações utilizando fortemente dois argumentos, a saber: a diminuição da demanda por espaço viário; a promoção da saúde e do bem estar urbanos, tanto pela prática de exercícios físicos, quanto pela diminuição das emissões de gases nocivos. Primeiro, gostaria de revelar que ultimamente tenho usado a bicicleta para me movimentar, embora eu esteja de férias. Além disso, gostaria de admitir que faço parte dessa classe média europeizada que gosta do veículo. Entretanto, sejamos francos e realistas, as bicicletas não são a panaceia para o caos que se tornou o problema da mobilidade na RMR. Vamos então às contra-argumentações.
Primeiro, contra a ideia da diminuição da demanda por espaço viário, a bicicleta ocupa quase tanto espaço quanto uma motocicleta. E enquanto a primeira rarissimamente pode levar duas pessoas, a segunda normalmente pode. Se o poder público iniciar a implementação de ciclovias e ciclo-faixas nas vias, não vai demorar muito para que estes caminhos estejam congestionados. Além do que, no momento inicial a situação vai se tornar o verdadeiro helter skelter, pois as pessoas não vão deixar de usar o automóvel particular no outro dia. E não é um problema só da fricção adaptativa. A quantidade de carros não parece ter elasticidade-engarrafamento muito alta. Em outras palavras, poucos deixam de usar o carro porque o caminho está engarrafado.
Agora contra a ideia da promoção da saúde e do bem-estar urbanos, preciso recorrer às hipóteses do comportamentalismo animal. Animais têm uma tendência clara que fundamenta o seu modo de vida e por consequência seu comportamento normal: maximizar o saldo de energia no processo de absorção e utilização dos nutrientes. Muito já se confirmou que a progressiva sedentarização do homo sapiens tem levado a nossa espécie à obesidade. Já se confirmou também que a necessidade de adquirir hábitos saudáveis na nossa vida cotidiana é uma urgência. Praticar exercícios físicos tornou-se uma necessidade, já que essa conduta substituiu os ônus energéticos com que a espécie tinha que arcar para achar fontes de energia, contribuindo para o equilíbrio da nossa massa corpórea. De fato, há muita lógica no raciocínio que embasa essa ideia, mas as estatísticas sobre biologia comportamental nos mostram claramente que o comportamento mediano do ser humano não tende a ser mais racional do que o de um macaco. Sendo assim, não se deve pensar que nossos cidadãos (condenados estatisticamente a se aproximarem da linha mediana da inteligência) vão repentinamente se dispor a pedalar por quilômetros porque isso vai ser bom para a saúde deles. É mais improvável ainda que os que adotem, mantenham o hábito num longo prazo. Além do mais, as condições climático-meteorológicas da cidade contribuem bastante para que sempre se queira estar em um lugar com ar condicionado.
Faço então uma defesa do transporte público de massas como fundamento da mobilidade urbana numa metrópole inchada como o Recife. Não obstante, as bicicletas e os deslocamentos a pé devam fazer parte da lógica da eficiência da mobilidade, estes meios devem ser secundários. Coisas como metrô e sistema de ônibus metrolizado (VLP ou VLT) é que devem ser exigidos. Esses meios apresentam grande eficiência, já que possuem alta taxa de passageiros por área ocupada. Outra saída são as águas da cidade. A ideia da transformação do Capibaribe em hidrovia urbana para transporte público é fantástica e deve ser ampliada, tanto para os outros rios da metrópole (Beberibe, Jordão, Tejipió, Jaboatão), quanto para os canais. Tudo isso com base no conceito de que em termos de transporte público de massas, mais é mais.
Saturday, April 9, 2011
Celulares e a evolução da espécie
Depois de ser censurado por familiares, amigos, colegas de trabalho e até por um assaltante, pelo fato de o meu aparelho de telefone celular não conter as maravilhosas novidades do desenvolvimento desenfreado das tecnologias da informação, resolvi me expressar aqui nesse relevante blog sobre o assunto. Diferentemente dos outros animais, a nossa espécie, (o homo sapiens sapiens), há milênios quase não precisa mais de mutações genéticas que aumentem a adaptação dos indivíduos em relação ao nicho ecológico de que fazem parte, para aumentar as chances da sua perenidade. O advento do raciocínio nos propiciou a capacidade de responder aos problemas impostos pelas características ambientais de uma forma tão eficiente, que qualquer montanha de vários hectômetros, se transforma em um simples problema conjuntural. Se eu quiser transpor essa montanha, em vez de passar uns cinquenta mil anos esperando que uma asa cresça nas minhas costas, eu vou lá e invento o avião.
É possível dizer que com o advento desse raciocínio começa também a primeira parte da história da tecnologia. Esse ramo do conhecimento humano diz respeito justamente ao conjunto de técnicas e artefatos que o ser humano precisou desenvolver para se livrar dos problemas que o ambiente lhe impunha e ter mais chances de sucesso na sua sobrevivência como espécie. Sendo assim, as nossas necessidades sempre foram a razão sine qua non do desenvolvimento tecnológico. Temos aí um problema conceitual gravíssimo. Já que conseguimos nos proteger dos predadores, de temperaturas inadequadas, da fome e de uma quantidade enorme de doenças, graças às nossas armas e abrigos, aos nossos aquecedores, à nossa capacidade de cultivar alimentos e às nossas vacinas (vide o fato de sermos parte da maior e a única pandêmica população de mamíferos do planeta) o que porra vem a ser necessidade para a nossa espécie?
Confesso que não tenho nem condição nem vontade de entrar numa discussão dessas. Vou me ater simplesmente ao fato de que nossas necessidades como espécie já foram supridas e priu. Desde que os artistas plásticos começaram a assinar suas obras na modernidade temos sido indivíduos e temos necessidades individuais. A uma parte de nós tem cabido o desenvolvimento da tecnologia. E a história dessa acabou dando uma guinada. Em vez de ser o simples efeito (na maior parte externalidade) das necessidades da espécie, a tecnologia virou a causa fundamental das necessidades do indivíduos. Embora há dez anos atrás não sentisse muita falta de assistir o Domingão do Faustão em uma tv full hd, hoje não consigo mais viver sem isso.
E os exageros não são raros. Quantos ficam ansiosos pelas novidades tecnológicas e querem ser os primeiros a tê-la? Acampamentos em frente as lojas quando se anuncia a estreia de um novo sistema fenomenal de alguma coisa são cada vez mais frequentes.
Sabendo disso, a parte da humanidade responsável pelo desenvolvimento dessa tecnologia desenvolveu até uma estratégia de divulgação da mesma. Qualquer avanço deve ser divulgado e comercializado parcialmente. Os indivíduos de que falei acima vão comprar o novo fuckingpad assim que ele chegar nas lojas. Seis meses depois vão comprar o novo motherfuckerfuckingpad, que de fato já existia antes do primeiro. O segreo é a alma do negócio. E assim as ações da empresa fucking vão lá pra cima. Fuck!
De fato, acredito que cada um gasta seu dinheiro como quer. Já que garantimos a nossa sobrevivência como espécie (considerando que qualquer hecatombe planetária ainda é uma coisa restrita a hollywood e aos ambientalistas), o indivíduo gasta o os recurso de que dispõe, obtidos graças ao suor de seu rosto como quer. Se ele quer um celular de mil e quinhentos reais para twitar, problema dele.
Para suprir as minhas necessidades, eu preciso apenas do meu que liga, marca a hora e tem despertador.
É possível dizer que com o advento desse raciocínio começa também a primeira parte da história da tecnologia. Esse ramo do conhecimento humano diz respeito justamente ao conjunto de técnicas e artefatos que o ser humano precisou desenvolver para se livrar dos problemas que o ambiente lhe impunha e ter mais chances de sucesso na sua sobrevivência como espécie. Sendo assim, as nossas necessidades sempre foram a razão sine qua non do desenvolvimento tecnológico. Temos aí um problema conceitual gravíssimo. Já que conseguimos nos proteger dos predadores, de temperaturas inadequadas, da fome e de uma quantidade enorme de doenças, graças às nossas armas e abrigos, aos nossos aquecedores, à nossa capacidade de cultivar alimentos e às nossas vacinas (vide o fato de sermos parte da maior e a única pandêmica população de mamíferos do planeta) o que porra vem a ser necessidade para a nossa espécie?
Confesso que não tenho nem condição nem vontade de entrar numa discussão dessas. Vou me ater simplesmente ao fato de que nossas necessidades como espécie já foram supridas e priu. Desde que os artistas plásticos começaram a assinar suas obras na modernidade temos sido indivíduos e temos necessidades individuais. A uma parte de nós tem cabido o desenvolvimento da tecnologia. E a história dessa acabou dando uma guinada. Em vez de ser o simples efeito (na maior parte externalidade) das necessidades da espécie, a tecnologia virou a causa fundamental das necessidades do indivíduos. Embora há dez anos atrás não sentisse muita falta de assistir o Domingão do Faustão em uma tv full hd, hoje não consigo mais viver sem isso.
E os exageros não são raros. Quantos ficam ansiosos pelas novidades tecnológicas e querem ser os primeiros a tê-la? Acampamentos em frente as lojas quando se anuncia a estreia de um novo sistema fenomenal de alguma coisa são cada vez mais frequentes.
Sabendo disso, a parte da humanidade responsável pelo desenvolvimento dessa tecnologia desenvolveu até uma estratégia de divulgação da mesma. Qualquer avanço deve ser divulgado e comercializado parcialmente. Os indivíduos de que falei acima vão comprar o novo fuckingpad assim que ele chegar nas lojas. Seis meses depois vão comprar o novo motherfuckerfuckingpad, que de fato já existia antes do primeiro. O segreo é a alma do negócio. E assim as ações da empresa fucking vão lá pra cima. Fuck!
De fato, acredito que cada um gasta seu dinheiro como quer. Já que garantimos a nossa sobrevivência como espécie (considerando que qualquer hecatombe planetária ainda é uma coisa restrita a hollywood e aos ambientalistas), o indivíduo gasta o os recurso de que dispõe, obtidos graças ao suor de seu rosto como quer. Se ele quer um celular de mil e quinhentos reais para twitar, problema dele.
Para suprir as minhas necessidades, eu preciso apenas do meu que liga, marca a hora e tem despertador.
Monday, October 25, 2010
Tropa de Elite 2 (breves comentários)
O novo filme de José Padilha merece poucos comentários. Como um filme de ação é muito bom. Ficam definidos claramente os papeis de mocinho e bandido (pelo menos para o público) e a partir do confronto entre o bem e o mal, a trama vai se desenvolvendo. Bons filmes de ação produzidos em Holywood também conseguem isso. O que atrapalha um pouco Tropa de Elite 2 é a intenção de transformar o maniqueísmo flagrande em algo mais complexo. Mas ainda assim, o filme de ação é divertido.
Quanto aos aspectos éticos do filme, menos coisas a falar. Discurso anti-sistema pueril (o inferno sempre são os outros). E a culpa (de que mesmo?) agora deixou de ser dos consumidores de pó e passou para os políticos (chegando até Brasília), que comandam uma imensa maquinação para conseguir votos.
Em suma, vale como divertimento no final de semana. Mas duvido muito que valha o tempo de cinco minutos de polêmica.
Quanto aos aspectos éticos do filme, menos coisas a falar. Discurso anti-sistema pueril (o inferno sempre são os outros). E a culpa (de que mesmo?) agora deixou de ser dos consumidores de pó e passou para os políticos (chegando até Brasília), que comandam uma imensa maquinação para conseguir votos.
Em suma, vale como divertimento no final de semana. Mas duvido muito que valha o tempo de cinco minutos de polêmica.
Saturday, October 23, 2010
Papai, eu preciso ser notada!
Eu nunca vi um filme de Sofia Coppola inteiro, mas vi uns pedaços de alguns e todas as vezes tive um verdadeiro mal-estar com as baboseiras que a cineasta usa para fundamentar as suas obras. A baboseira fundamental é a caracterização da protagonista (talvez ela própria) como uma pessoa que está convicta da sua espiritualidae superior ao resto do mundo porque nunca aceitará viver a vida frívola das pessoas ao seu redor e que demonstra uma angústia tremenda quando um contexto desse tipo lhe é imposto. Uma outra baboseira é o sentimento de frustração que vai adquirindo a protagonista (e em algumas situações outros personagens semelhantes) com o fato de que nunca poderá ficar claro a essas pessoas frívolas o quanto a sua espiritualidade exacerbada é superior.
O filme de Coppola Filha que vi por mais tempo foi "Encontros e Desencontros". A protagonista é a deliciosa Scarlet Johanson e o mocinho é a porra do Bill Murray. O filme já começa bizarro pela sugestão de que Scarlet Johansen vai dar pra ele. Isso já é uma coisa indigna de se pensar, mas Bill Murray é um personagem que compartilha com a protagonista esse definitivo senso de superioridade espiritual em relação ao restante de humanidade (no caso de Murray esse senso se manifesta em relação ao Japão e aos japoneses). Em um momento do filme ele lamenta pra ela: "ah! viajei não sei quantas mil milhas para fazer um comercial vazio e ganhar uma quantia exagerada de dividendos". De fato ele não fala isso, mas fala algo com exatamente esse sentido. A moça que é ou filósofa ou antropóloga (não lembro), mas casada com um fotógrafo galã, que trabalha com modelos bonitas que falam de prisão de ventre (que frívolidade!) se apaixona por Murray. Eis um confronto do belo vazio contra o feio pleno de conteúdo intelectual e espiritual por dentro. E a paixão é recíproca, pois um feio pleno por dentro consegue ir além do maravilhoso e curvilíneo pote que envolve a intelectualidade e espiritualidade superiores de Johanson. E quando dois seres desse tipo se encontram, dá namoro! Não cheguei a ver o final, mas conversando sobre essa porra desse filme, já me contaram que felizmente os dois não consumam a paixão (nem com um inocente beijinho). Aliás, parece que o filme ganhou Oscar de melhor roteiro justamente porque o desfecho não é como a maior parte dos filmes desse tipo. Aliás, já escutei louvores a essa magnífica obra por causa desse magnífico desfecho. Os dois protagonistas acabam se separando.
Eu não consigo bem entender o significado de um final como esse, mas posso especular. A primeira hipótese é a de que eles eram tão superiores que não era necessário que a paixão descesse ao baixo nível do encontro de fluidos corporais e carne. A segunda hipótese é a de que a frivolidade que inunda as pessoas as impediria de entender principalmente os atos de Scarlet Johanson (já que ela é a protagonista). Na primeira, a plenitude espiritual (ainda que feia por causa de Muray) vence a frivolidade. Na segunda o contrário. Mas o fato é que o filme é feio e pleno tal como que um pote cheio de merda também é.
Resolvi postar esse texto porque acabei de ler num jornal que no filme novo dela, Coppola usa a mesma fórmula. Eis a frase na matéria: "Coppola faz retrato do showbusiness e da vida que gira no vazio". Puta que pariu!
Tinha parado nessa frase pra escrever aqui, mas quando li o resto da matéria (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/818945-sofia-coppola-equilibra-critica-e-delicadeza-em-um-lugar-qualquer.shtml) lembrei de uma discussão sobre a cineasta que tive uma vez com Novak, nosso colaborador esporádico. Ele chamou atenção ao fato de que as protagoistas de Coppola denotam que ela se sente no papel da filha, cujo pai famoso e importantíssimo na humanamente superficial indústria cinematográfica, nunca teve tempo para ouvir as divagações brilhantes de adolescente rica que ela deve ter tido quando era mais nova. Todas as suas protagonistas querem um pouco de atenção para o seu brilho intelectual e o mundo incondicionalmente vazio e imediatista não demonstra a menor disposição em prestá-la.
Parece que nesse novo filme, a filhinha do cara que vive um mundo de frivolidades vai tirar ele desse mundo. Se for assim, a vitória contra a frivolidade será conseguida. Espero que depois disso ela pare de fazer filmes.
O filme de Coppola Filha que vi por mais tempo foi "Encontros e Desencontros". A protagonista é a deliciosa Scarlet Johanson e o mocinho é a porra do Bill Murray. O filme já começa bizarro pela sugestão de que Scarlet Johansen vai dar pra ele. Isso já é uma coisa indigna de se pensar, mas Bill Murray é um personagem que compartilha com a protagonista esse definitivo senso de superioridade espiritual em relação ao restante de humanidade (no caso de Murray esse senso se manifesta em relação ao Japão e aos japoneses). Em um momento do filme ele lamenta pra ela: "ah! viajei não sei quantas mil milhas para fazer um comercial vazio e ganhar uma quantia exagerada de dividendos". De fato ele não fala isso, mas fala algo com exatamente esse sentido. A moça que é ou filósofa ou antropóloga (não lembro), mas casada com um fotógrafo galã, que trabalha com modelos bonitas que falam de prisão de ventre (que frívolidade!) se apaixona por Murray. Eis um confronto do belo vazio contra o feio pleno de conteúdo intelectual e espiritual por dentro. E a paixão é recíproca, pois um feio pleno por dentro consegue ir além do maravilhoso e curvilíneo pote que envolve a intelectualidade e espiritualidade superiores de Johanson. E quando dois seres desse tipo se encontram, dá namoro! Não cheguei a ver o final, mas conversando sobre essa porra desse filme, já me contaram que felizmente os dois não consumam a paixão (nem com um inocente beijinho). Aliás, parece que o filme ganhou Oscar de melhor roteiro justamente porque o desfecho não é como a maior parte dos filmes desse tipo. Aliás, já escutei louvores a essa magnífica obra por causa desse magnífico desfecho. Os dois protagonistas acabam se separando.
Eu não consigo bem entender o significado de um final como esse, mas posso especular. A primeira hipótese é a de que eles eram tão superiores que não era necessário que a paixão descesse ao baixo nível do encontro de fluidos corporais e carne. A segunda hipótese é a de que a frivolidade que inunda as pessoas as impediria de entender principalmente os atos de Scarlet Johanson (já que ela é a protagonista). Na primeira, a plenitude espiritual (ainda que feia por causa de Muray) vence a frivolidade. Na segunda o contrário. Mas o fato é que o filme é feio e pleno tal como que um pote cheio de merda também é.
Resolvi postar esse texto porque acabei de ler num jornal que no filme novo dela, Coppola usa a mesma fórmula. Eis a frase na matéria: "Coppola faz retrato do showbusiness e da vida que gira no vazio". Puta que pariu!
Tinha parado nessa frase pra escrever aqui, mas quando li o resto da matéria (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/818945-sofia-coppola-equilibra-critica-e-delicadeza-em-um-lugar-qualquer.shtml) lembrei de uma discussão sobre a cineasta que tive uma vez com Novak, nosso colaborador esporádico. Ele chamou atenção ao fato de que as protagoistas de Coppola denotam que ela se sente no papel da filha, cujo pai famoso e importantíssimo na humanamente superficial indústria cinematográfica, nunca teve tempo para ouvir as divagações brilhantes de adolescente rica que ela deve ter tido quando era mais nova. Todas as suas protagonistas querem um pouco de atenção para o seu brilho intelectual e o mundo incondicionalmente vazio e imediatista não demonstra a menor disposição em prestá-la.
Parece que nesse novo filme, a filhinha do cara que vive um mundo de frivolidades vai tirar ele desse mundo. Se for assim, a vitória contra a frivolidade será conseguida. Espero que depois disso ela pare de fazer filmes.
Sunday, October 3, 2010
É a democracia, abestado
Eu tinha dito a mim mesmo q não ia mais falar de política nessa merda, mas acho q vale a exceção. Acabo de saber que Tiririca conseguiu a maior votação da história do país pra deputado federal. Logo depois, vi na TV alguns comentários num debate envolvendo um marqueteiro político, um dono de instituto de pesquisa e dois políticos. Condenações a esse fato não faltaram no debate e nem faltarão nos próximos dias. Um falou que era um achincalhamento à democracia, outro que faz parte da história política brasileira e todos aproveitaram pra falar que o Brasil precisa de uma ampla reforma política, ou seja, uma reforma no arcaboço legal que regula os processos eleitorais e a política ordinária. Sinceramente, eu fico estupefato como esse assunto bizarro aparece em períodos eleitorais. Sistemas políticos democráticos têm problemas da Suécia à Índia e é provável que sempre tenham durante todo tempo que a democracia durar e a tentativa de reformá-los só resulta em uma coisa, a saber: a certeza de que a reforma gerou outros problemas para o sistema que geraram outra necessidade de reforma. Mas não quero falar disso. Quero falar da indignação das pessoas às candidaturas de pessoas como Tiririca e artistas em geral, jogadores de futebol, personagens de vídeos bizarros do youtube e coisas similares. Primeiro de tudo, o brasileiro tem a tendência de achar que a priori qualquer pessoa que submeta sua candidatura a um cargo público quer na verdade dar uma mamada nas tetas do governo. Em consequência, essa tendência leva ao fato de que quando um eleitor vota em alguém ele se sente fazendo um favor; "estou dando a esse cidadão, um emprego público e os privilégios decorrentes desse(inclusive as mamadas nas tetas) por um tempo". Logo, se Tiririca se candidata ele quer é mamar.
Porém, a democracia é um sistema que demanda para a sua existência, a ampla participação da população no processo eleitoral. Qualquer um, respeitando algumas restrições perfeitamente razoáveis, como a maioridade por exemplo, pode ser um candidato. Se Tiririca, Romário, Bebeto, Franklin Aguiar e o grande Reginaldo Rossi se candidatam isso é uma simples decorrência dessa demanda, que na verdade é melhor qualificada como princípio da democracia representativa que vivenciamos.
De fato, é pertinente achar que alguém que queira se candidatar a um cargo público, deva fazê-lo por alguma noção de bem público, ou tenha experiência, ou ainda um discurso empolgante, mas tenho tido a impressão de que, a maior explicação para que uma pessoa que nunca teve nada na vida parecida com uma carreira política (em sindicatos, movimentos estudantis, associações de moradores, clubes) submeta-se ao escrutínio eleitoral é o fato de ele ser conhecido. Tanto é que quando em algum lugar alguém é conhecido de muita gente, todos tiram a velha onda,"porra, fulano vai se candidatar a vereador". E acho q é por isso q esse pessoal se candidata. Concordo que seja pertinente desconfiar da seriedade dessas candidaturas, mas por outro lado digo pode ser puro preconceito negar a possibilidade de que esses candidatos, quando eleitos, possam levar a futura carreira política com seriedade.
Mas o ponto mais importante desse texto inútil é indagar se quando um candidato desse tipo é eleito com 1 milhão de votos numa votação proporcional e o sentimento aparente varia de vergonha à indignação não há nada errado com a democracia em seu fundamento. A candidatura de alguém como Tiririca não passa de uma candidatura até que 1 milhão de pessoas votem nele. Houve uma decisão apoiada no princípio da maioria, que é o fundamento por definição da democracia.
Tiririca é um símbolo da democracia, abestado.
Porém, a democracia é um sistema que demanda para a sua existência, a ampla participação da população no processo eleitoral. Qualquer um, respeitando algumas restrições perfeitamente razoáveis, como a maioridade por exemplo, pode ser um candidato. Se Tiririca, Romário, Bebeto, Franklin Aguiar e o grande Reginaldo Rossi se candidatam isso é uma simples decorrência dessa demanda, que na verdade é melhor qualificada como princípio da democracia representativa que vivenciamos.
De fato, é pertinente achar que alguém que queira se candidatar a um cargo público, deva fazê-lo por alguma noção de bem público, ou tenha experiência, ou ainda um discurso empolgante, mas tenho tido a impressão de que, a maior explicação para que uma pessoa que nunca teve nada na vida parecida com uma carreira política (em sindicatos, movimentos estudantis, associações de moradores, clubes) submeta-se ao escrutínio eleitoral é o fato de ele ser conhecido. Tanto é que quando em algum lugar alguém é conhecido de muita gente, todos tiram a velha onda,"porra, fulano vai se candidatar a vereador". E acho q é por isso q esse pessoal se candidata. Concordo que seja pertinente desconfiar da seriedade dessas candidaturas, mas por outro lado digo pode ser puro preconceito negar a possibilidade de que esses candidatos, quando eleitos, possam levar a futura carreira política com seriedade.
Mas o ponto mais importante desse texto inútil é indagar se quando um candidato desse tipo é eleito com 1 milhão de votos numa votação proporcional e o sentimento aparente varia de vergonha à indignação não há nada errado com a democracia em seu fundamento. A candidatura de alguém como Tiririca não passa de uma candidatura até que 1 milhão de pessoas votem nele. Houve uma decisão apoiada no princípio da maioria, que é o fundamento por definição da democracia.
Tiririca é um símbolo da democracia, abestado.
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