Sunday, October 3, 2010

É a democracia, abestado

Eu tinha dito a mim mesmo q não ia mais falar de política nessa merda, mas acho q vale a exceção. Acabo de saber que Tiririca conseguiu a maior votação da história do país pra deputado federal. Logo depois, vi na TV alguns comentários num debate envolvendo um marqueteiro político, um dono de instituto de pesquisa e dois políticos. Condenações a esse fato não faltaram no debate e nem faltarão nos próximos dias. Um falou que era um achincalhamento à democracia, outro que faz parte da história política brasileira e todos aproveitaram pra falar que o Brasil precisa de uma ampla reforma política, ou seja, uma reforma no arcaboço legal que regula os processos eleitorais e a política ordinária. Sinceramente, eu fico estupefato como esse assunto bizarro aparece em períodos eleitorais. Sistemas políticos democráticos têm problemas da Suécia à Índia e é provável que sempre tenham durante todo tempo que a democracia durar e a tentativa de reformá-los só resulta em uma coisa, a saber: a certeza de que a reforma gerou outros problemas para o sistema que geraram outra necessidade de reforma. Mas não quero falar disso. Quero falar da indignação das pessoas às candidaturas de pessoas como Tiririca e artistas em geral, jogadores de futebol, personagens de vídeos bizarros do youtube e coisas similares. Primeiro de tudo, o brasileiro tem a tendência de achar que a priori qualquer pessoa que submeta sua candidatura a um cargo público quer na verdade dar uma mamada nas tetas do governo. Em consequência, essa tendência leva ao fato de que quando um eleitor vota em alguém ele se sente fazendo um favor; "estou dando a esse cidadão, um emprego público e os privilégios decorrentes desse(inclusive as mamadas nas tetas) por um tempo". Logo, se Tiririca se candidata ele quer é mamar.
Porém, a democracia é um sistema que demanda para a sua existência, a ampla participação da população no processo eleitoral. Qualquer um, respeitando algumas restrições perfeitamente razoáveis, como a maioridade por exemplo, pode ser um candidato. Se Tiririca, Romário, Bebeto, Franklin Aguiar e o grande Reginaldo Rossi se candidatam isso é uma simples decorrência dessa demanda, que na verdade é melhor qualificada como princípio da democracia representativa que vivenciamos.
De fato, é pertinente achar que alguém que queira se candidatar a um cargo público, deva fazê-lo por alguma noção de bem público, ou tenha experiência, ou ainda um discurso empolgante, mas tenho tido a impressão de que, a maior explicação para que uma pessoa que nunca teve nada na vida parecida com uma carreira política (em sindicatos, movimentos estudantis, associações de moradores, clubes) submeta-se ao escrutínio eleitoral é o fato de ele ser conhecido. Tanto é que quando em algum lugar alguém é conhecido de muita gente, todos tiram a velha onda,"porra, fulano vai se candidatar a vereador". E acho q é por isso q esse pessoal se candidata. Concordo que seja pertinente desconfiar da seriedade dessas candidaturas, mas por outro lado digo pode ser puro preconceito negar a possibilidade de que esses candidatos, quando eleitos, possam levar a futura carreira política com seriedade.
Mas o ponto mais importante desse texto inútil é indagar se quando um candidato desse tipo é eleito com 1 milhão de votos numa votação proporcional e o sentimento aparente varia de vergonha à indignação não há nada errado com a democracia em seu fundamento. A candidatura de alguém como Tiririca não passa de uma candidatura até que 1 milhão de pessoas votem nele. Houve uma decisão apoiada no princípio da maioria, que é o fundamento por definição da democracia.
Tiririca é um símbolo da democracia, abestado.

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